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Como na ZAD de Notre-Dame-des-Landes, defendamos outras maneiras de habitar.

segunda-feira 16 de Abril de 2018

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Como na ZAD de Notre-Dame-des-Landes, defendamos outras maneiras de habitar.

Em 17 de janeiro de 2018, o abandono do projeto de aeroporto em Notre-Dame-des-Landes marca o sucesso de uma das mais longas lutas na França e repercute como uma forte esperança para todxs aquelxs que lutam pela ecologia. No entanto, o governo francês permanece com a ameaça de expulsar a zona. É por isso que arquitetos, urbanistas, pensadores, cidadãos ... se mobilizaram para escrever esta tribuna e defender essa experiência de porvir.

A vitória contra o projeto de aeroporto em Notre-Dame-des-Landes é a de uma ampla e diversificada mobilização. Na multiplicidade de meios de luta que contribuíram para isso, a resistência pela perene ocupação da Zona a ser defendida (ZAD) tem uma posição primordial. Ao continuar em manter esse território vivo, xs xntigxs e novxs habitantes permitiram, durante mais de dez anos, impedir a destruição de terras naturais e agrícolas. Elxs cuidaram desses espaços elaborando novas formas de organizações coletivas e desenvolvendo atividades: carpintaria, padarias, hortas coletivas de vegetais e cereais, extração madeireira, biblioteca, pomares, cervejaria, fábrica de queijos, fábrica de conservas, forja, curtume, herbalismo, música, serigrafia... Elxs assim demonstraram que é possível viver de outra maneira, longe dos cenários estatais da agricultura industrializada e padronizada, bem como por meio de métodos de construção outros que sejam formas de imaginar um porvir viável e sustentável para áreas rurais e agrícolas.

Um território em comum

Nesse bosque, foram inventadas e tecidas várias formas de vida, aspirando a uma melhor harmonia com o território que ocupam. Nas interações entre habitantes "históricos", camponesxs, posseirxs, vizinhxs, animais selvagens ou de criação, gramíneas, insetos e árvores, mas também com todxs aquelxs que passaram, amigxs, estudantes, militantes, viajantes, artesãs, um território comum foi construído, para além da propriedade, dos hábitos e pertencimentos. Esse experimento tamanho natureza e a longo prazo leva todos a evoluírem em suas representações e práticas, para muito além desse bosque. Nisso, o horizonte alegre que abre a ZAD em outros lugares fora das metrópoles implica a todxs nós.

Vivendo e construindo de maneira diferente

A ZAD é também a aventura de suas construções. São corpos de sítios renovados por meio de grandes canteiros coletivos, mutirões, novos galpões agrícolas com vigamentos impressionantes; é também a força poética das muitas cabanas nas árvores, no meio de um lago, na esquina de um terreno baldio ou em um campo; é também a presença de habitats leves ou nômades, caminhões, caravanas, iurtas que completam essa paisagem habitada.

Fora da norma, múltiplas, diversas, poéticas, adaptadas, hackeadas, leves, sóbrias, precárias, feitas de materiais locais ou reutilizados, terra, madeira, palha ou reciclados, essas construções respondem em sua escala às questões ecológicas e energéticas, contrárias ao mundo que a indústria do concreto e do aço está construindo por todo o planeta. São também o resultado de uma inventividade arquitetónica, manual, de improvisação e de criação, favorecida pelo estímulo coletivo da ZAD, incentivando as pessoas, especialistas ou iniciantes, a reivindicar o ato de construir. A multiplicidade das formas construídas mostra possibilidades de habitar e construir além das lógicas fundiárias e imobiliárias baseadas essencialmente na especulação, que deixam pouca latitude para que moradorxs e arquitetxs proponham soluções alternativas.

Quem atravessou esse território, quem participou de seus canteiros de obras, sabe o valor das forças que puderam renovar esses sítios e construir essas cabanas. Porque bem longe da imagem autárquica transmitida contra ela, a ZAD é um espaço de passagem, de troca, um lugar que faz escola; escola da vida, mas também escola do habitar e do construir.

O que está em jogo aqui é a invenção de um vernáculo contemporâneo feito de questões mundiais e materiais locais. O que está em jogo é também a defesa de uma herança viva resultado de uma luta de solidariedade que abre nossos imaginários.

Contra a destruição do ZAD

Reconhecemos que tornar nossas fontes de energia mais limpas, nossas construções mais ecológicas e nossas cidades mais verdes não será suficiente para garantir um porvir sustentável. A importância de encontrar formas de vida mais sóbrias em energia e em recursos com as quais engajar-se plenamente, nos leva, portanto, aqui a defender a ZAD, suas habitantes e lugares de vida.

Em vista da complexidade da situação, o debate ao redor da legalidade não poderia se não levar a uma resolução pela precipitação, pela força e pela destruição. É por isso que o congelamento das terras e a abertura ao diálogo exigidas pelo movimento anti-aeroporto são as únicas propostas que fazem sentido.

Nós nos opomos, portanto, à expulsão dxs habitantes da ZAD assim como à destruição das formas de organização coletiva e construções atípicas que lá se desenvolveram e que lá ainda se desenvolvem. Nós nos engajamos em defender o que lá se vive e afirmamos que essas novas formas de construir e de habitar são hoje legítimas e necessárias em relação aos problemas enfrentados por nossas sociedades.

Para participar desta chamada: